Implantes Mamários de Silicone e o Risco de Linfoma Anaplásico

Clécio Lucena – Mastologista e Professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG

Um tipo raro de câncer na mama associado aos implantes mamários de Silicone passou a ser objeto de discussão em todo o mundo – Linfoma Anaplásico de Células Grandes (BIA-ALCL). Trata-se de um Linfoma de Células T, CD30 positivo e ALK negativo que se apresenta mais frequentemente na forma de um seroma tardio.

A OMS reconheceu o BIA-ALCL em 2016 tendo tido o primeiro caso descrito na literatura em 1997, acumulando um total de 656 casos reportados e 17 mortes* diretamente relacionados a essa entidade.

No momento, a etiopatogenia dessa doença a relaciona aos implantes texturizados de silicone, associado a colonização bacteriana local (formação do biofilme), e uma predisposição genética individual. A literatura em geral é extremamente controversa sobre as estimativas de risco para desenvolvimento da BIA-ALCL. 

Há uma estimativa de que aproximadamente 35 milhões de mulheres em todo o mundo têm implantes texturizados, com risco estimado de 1:30.000 mulheres portadoras desses implantes. A forma mais comum de apresentação do BIA-ALCL é um seroma tardio (2/3 dos casos), cerca de 7-10 anos após a inclusão dos implantes.

Outras formas menos comuns (1/3 dos casos) são a detecção de uma massa adjacente aos implantes, em geral na cápsula dos implantes, além de alterações cutâneas, contratura capsular e linfoadenomegalias.

O NCCN estabeleceu guidelines para diagnóstico e tratamento do BIA-ALCL em 2016 e atualizou em 2019.

Considerando que a forma de apresentação clínica mais comum é o seroma tardio (> 1 ano após inclusão implante) demonstrado no exame ecográfico ou ressonância magnética das mamas, torna-se fundamental a coleta deste fluido através da PAAF submetendo-o a análise citológica e citometria de fluxo.

Na presença de massas, lesões cutâneas, contratura capsular graus 3 ou 4, ou linfoadenopatia suspeita, biópsia aberta pode ser necessária. 

Além do diagnóstico citopatológico, torna-se fundamental a confirmação através da imunohistoquímica com marcador CD30 positivo e resultado negativo para o marcador ALK.

A abordagem terapêutica inclui a ressecção cirúrgica dos implantes, capsulectomia total e, nos estágios mais avançados, linfadenectomia. 

Reconstrução mamária deve ser realizada com retalhos miocutâneos ou com implantes de silicone lisos. A maioria dos casos não requer tratamento adicional. Para estádios II a IV podem ser necessária quimioterapia e radioterapia nas lesões com ressecção parcial.

Apesar da importância do tema e do potencial de susto que pode resultar às mulheres portadoras de implantes mamários, não há justificativa para pânico ou recomendação sistemática de retirada dos implantes. 

Entretanto, torna-se fundamental que a comunidade médica tome conhecimento dessa entidade, aprenda a reconhecer e adequadamente diagnosticá-la, orientando de maneira segura e eficaz as pacientes.

* Collett DJ et al. Current Risk Estimate of Breast Implant-Associated Anaplastic Large Cell Lymphoma in Texture Breast implants. Plast Reconstr Surg. 2019; 143: 30S-40S.

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